A grafia não nega. Nas veias tintas da Cabernet Franc (pronuncia-se Cabernê Fran[c]) corre um genuíno sangue francês.

 

Embora não seja uma das variedades mais conhecidas e aclamadas pelo mundo, a Cabernet Franc está conquistando seu espaço de forma bastante abrangente em todo o mundo.

 

Sua origem remete mais provavelmente à região de Bordeaux, na França, onde atualmente se encontra a terceira maior extensão de vinhedos.

 

Parente próxima a Cabernet Sauvignon, é muito comum encontrar blends com essa uva, muitos deles famosíssimos na região de Bordeaux.

 

O “corte bordalês” é um exemplo de blend aclamado com a Cabernet Franc e as variedades Merlot e Cabernet Sauvignon.

 

 

De Bordeaux para o Mundo

 

A história da Cabernet Franc não é coisa do século passado. Na verdade, trata-se de uma das cepas mais antigas de Bordeaux.

 

Inclusive a excelência de seus exemplares varietais colocam-na em posição de destaque no Vale do Loire.

 

Aqui no Brasil, a cepa também teve seus dias de glória, embora tenha perdido espaço na atualidade. Por volta dos anos 70 e 80 essa foi a uva mais cultivada no Rio Grande do Sul.

 

Durante esse período, não era de se estranhar que a base para os vinhos tintos finos fosse a Cabernet Franc.

 

No entanto, sua produção massiva visando a indústria dos vinhos foi diminuindo e abrindo espaço para suas companheiras de blend, Sauvignon e Merlot.

 

Houve até mesmo um período em que a Cabernet Franc foi vendida pelo preço da uva comum. O que pode ter levado uma cepa tão próspera a perder espaço dessa maneira?

 

 

O Motivo da Queda

 

Segundo dados da Embrapa, nos anos de 1983 a 1985, a produção de Cabernet Franc atingia o seu auge: mais de 10 mil toneladas da uva invadiam o país, dando origem a vinhos excelentíssimos.

 

Com tanta qualidade e personalidade, os vinhos da Cabernet Franc não tinham outra escolha a não ser o sucesso.

 

Então, por que em 2001 a produção despencou 75%, chegando a 2,5 mil toneladas?

 

A resposta está nos clones que foram plantados a partir da década de 90.

 

A Casa Valdunga experimentou um problema com a qualidade dos clones da variedade Cabernet Franc.

 

A sanidade das vinhas foi comprometida com os clones de pouca qualidade, gerando uvas abaixo do padrão e em menor quantidade.

 

E, como esse quadro foi sendo observado em outros vinhedos da região, o jeito foi substituir por outras variedades como Merlot e a Cabernet Sauvignon.

 

Atualmente, a situação está sendo gradativamente amenizada através da plantação de novos clones, com qualidade superior. E os resultados têm se mostrado promissores.

 

As novas vinhas estão produzindo bastante e fornecendo uvas saudáveis para a produção de bons vinhos na região da Campanha Gaúcha, no Vale dos Vinhedos, em Pinto Bandeira e em Flores da Cunha.

 

 

Identidade e Padrão Excepcional

 

O renascimento da Cabernet Franc no Brasil é uma ótima notícia. Não apenas para os donos de vinícolas, mas para os apreciadores dos vinhos dela derivados.

 

Trata-se de uma cepa de média maturação e facilmente adaptável a solos calcários, além do fato de que suas uvas florescem e amadurecem mais cedo do que outras variedades.

 

O conjunto dessas características resulta em vinhos com boa capacidade de envelhecimento e ótima qualidade.

 

Suas uvas de casca mais fina do que a Cabernet Sauvignon, geram varietais de médio corpo, leves e com textura aveludada.

 

O frescor mescla-se a aromas bem pronunciados, podendo-se perceber frutas como groselha e framboesas.

 

Mesmo sem possuir uma cor muito acentuada, os varietais dessa cepa encantam paladares e aguçam os olfatos mais sensíveis, premiando seus degustadores com tons suaves de violetas, toques vegetais e pimenta.

 

Com tanta personalidade e vigor, nada mais justo que um segundo reinado da Cabernet Franc nos presenteie com mais de seus excepcionais vinhos.